Um pouco sobre mim e a minha experiência com o diagnóstico de TEA e TDAH na vida adulta

Me formei em Medicina pela Universidade Estadual de Montes Claros em 2014. Desde então, trilhei um caminho marcado pelo cuidado direto, cotidiano e humano: atuei por mais de dez anos como médica generalista, trabalhando em equipes de saúde da família, em emergências e em plantões hospitalares — lugares onde o sofrimento é imediato, e onde o médico precisa estar inteiro, presente, atento ao que se diz e ao que não se diz.

Desde o início, percebi que minha escuta ia além da queixa objetiva. Sempre me detive um pouco mais, ouvi um pouco além. Com o tempo, compreendi que essa escuta vinha de um lugar mais profundo — algo que não se aprendia nos livros, mas na experiência e, sobretudo, no próprio silêncio interior.

Foi já adulta, ao longo dessa trajetória, que recebi o diagnóstico de TDAH. Longe de ser um obstáculo, esse momento lançou luz sobre muitos aspectos da minha história, da minha forma de perceber o mundo e de me relacionar com o outro. Trouxe-me clareza, mas também uma afinidade ainda maior com os que carregam sofrimentos invisíveis, que muitas vezes passam despercebidos mesmo nos ambientes de cuidado.

Compreendi que o sofrimento humano não se divide em partes — que dor nenhuma é apenas física, e que escutar verdadeiramente um paciente é escutar sua alma, mesmo quando ele fala da pele, do estômago ou do sono.

A dra Vanessa de Moraes Oliveira é graduada em medicina pela Universidade Estadual de Montes Claros desde 2014, com mais de 10 anos de experiência clínica, pós- graduada em Psiquiatria e em Transtorno do Espectro Autista, oferece atendimento acolhedor e humanizado em saúde mental com enfoque em TEA e TDAH para todas as idades.

O meu primeiro contato com o autismo e os transtornos do neurodesenvolvimento se deu através de uma capacitação/mentoria em TEA que fiz com o Dr. Thiago Castro, em que mergulhei em um estudo aprofundado do autismo, principalmente na criança, com ênfase no diagnóstico precoce e terapias baseadas em evidências, com aulas com renomados especialistas e suporte individual com os mesmos. Foi um ano de muito aprendizado e crescimento pessoal e profissional. Em seguida, já pós graduada em psiquiatria, decidi cursar pós graduação também em TEA e progressivamente meu trabalho se voltou mais a este público, principalmente o diagnóstico tardio do autista nível 1 de suporte, na vida adulta.

O Transtorno do Espectro Autista e o TDAH não tratados na vida adulta podem gerar dificuldades significativas em diversas áreas, afetando a saúde mental, a vida profissional, os relacionamentos e a qualidade de vida do indivíduo. Muitas vezes, adultos autistas sem diagnóstico ou sem acompanhamento adequado passam anos enfrentando desafios sem compreender completamente suas dificuldades, o que pode levar a quadros de exaustão, isolamento e sofrimento emocional.

Sem um diagnóstico correto, muitos adultos neurodivergentes recebem diagnósticos equivocados, como Transtorno de Ansiedade Generalizada, Transtorno de Personalidade Esquizotípica ou Esquizoide ou ainda Borderline, Depressão Crônica, Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Transtorno Bipolar.

Com o diagnóstico e suporte adequado, como psicoterapia especializada e adaptações no ambiente de trabalho e na rotina, é possível melhorar a qualidade de vida e desenvolver estratégias para lidar com os desafios diários.

O reconhecimento do autismo e do TDAH na vida adulta não é apenas um rótulo, mas uma chave para a autocompreensão e para uma vida mais equilibrada e satisfatória.